Como fazíamos sem... SOBRENOME
Camila Pitanga. Osmar Prado. Sérgio Reis. Você nunca achou estranho que os sobrenomes dessas personalidades sejam também palavras do dicionário? Pois antigamente todos os sobrenomes eram exatamente assim.
Até o século XII, as crianças recebiam apenas um nome quando nasciam. Por exemplo: Camila. Ou Osmar. Ou Sérgio. Mas, para facilitar a comunicação (afinal não havia apenas uma pessoa com cada nome), o costume era se referir às pessoas usando alguma característica ou informação que pudesse facilitar o entendimento. Por exemplo, se a Camila morasse num terreno onde havia um pé de pitanga, ao se referir a ela as pessoas poderiam dizer: Você conhece a Camila, do pé de pitanga? Aos poucos, para agilizar a comunicação, as pessoas já usavam o apelido junto ao nome e diziam, por exemplo, “Ah! Convide a Camila Pitanga”. O mesmo acontecia com o Osmar, que morava no prado (que é sinônimo de pasto) e com o Sérgio cujos tios longínquos tinham sido reis (se você tinha uma característica tão importante não podia deixá-la passar em branco).
Os apelidos – que mais tarde se tornariam sobrenomes – também podiam se referir a características físicas ou de personalidade. Por exemplo, Renato Branco ou Marieta Severo (os antepassados da atriz não deviam ser muito calminhos). Outros ainda usavam nomes de animais para destacar traços de humor. É o caso de Leão. Também havia quem ficasse conhecido a partir do nome dos pais. Cláudia Rodrigues era filha do Rodrigo e Manuel Fernandes era filho do Fernando.
Como no século XII, quando essa moda pegou, ainda não tínhamos sido descobertos pelos portugueses, muitos dos nossos sobrenomes vieram junto com os conquistadores. É por isso que alguns dos exemplos que existem em todas as partes do Brasil se referem a regiões de Portugal. É o caso de Varela, Aragão, Cardoso, Araújo, Abreu, Guimarães, Valadares e Barbosa.
A atividade da família também ajudava a batizá-la. É muito provável que o piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher venha de uma família de sapateiros já que Schumacher parece derivar de shoe maker (ou fazedor de sapatos, em inglês). Também é possível que a família Soalheiro, que assina este livro, não fosse muito ocupada durante o século XII. É que uma das definições para o sobrenome é “grupo de pessoas ociosas, que fica ao sol falando da vida alheia!”. Parece que fofoqueiro já era profissão nessa época...
Na maior parte das vezes os nomes iam se modificando de acordo com o sotaque ou por problemas de grafia (quem registrava os bebês nessa época eram os padres e eles nem sempre eram muito bem alfabetizados). O cientista político brasileiro Bolívar Lamounier escreveu um livro para tentar descobrir de onde vem o sobrenome de sua família e acabou encontrando quatro hipóteses possíveis na grafia antiga de palavras francesas: moleiro (moulinier), moeda (monnoier), esmola (aumonier) e limoeiro (limonier).
Texto adaptado para fins didáticos.
SOALHEIRO, Barbara. Como fazíamos sem.... São Paulo: Panda Books, 2006.
SOALHEIRO, Barbara. Como fazíamos sem.... São Paulo: Panda Books, 2006.
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