sábado, 15 de dezembro de 2012

As línguas indígenas


As línguas indígenas
Troncos e famílias

Hoje em dia existem mais ou menos 180 línguas indígenas no Brasil.

Umas são mais semelhantes entre si do que outras. Isso mostra que há origens comuns e processos de mudanças que aconteceram com o passar do tempo.

Os especialistas no conhecimento das línguas são chamados de linguistas.

Os linguistas expressam as semelhanças e as diferenças entre as línguas através da idéia de troncos e famílias linguísticas.

Quando se fala em tronco, deve-se pensar nas línguas cuja origem comum está situada há milhares de anos, e as semelhanças entre elas sendo muito sutis.

Entre línguas de uma mesma família, as semelhanças são maiores, e são o resultado de separações ocorridas há menos tempo.

Veja o exemplo do português:



 As línguas indígenas no Brasil apresentam dois grandes troncos: Tupi e Macro-Jê.

São 19 famílias linguísticas que não apresentam graus de semelhanças suficientes para que possam ser agrupadas em troncos.

Há famílias de apenas uma língua, às vezes denominadas “línguas isoladas”, por não serem parecidas com nenhuma outra língua conhecida.

É importante lembrar que poucas línguas indígenas no Brasil foram estudadas em profundidade.

Conheça as línguas indígenas brasileiras, agrupadas em famílias e troncos, de acordo com a classificação do professor Ayron Dall’Igna Rodrigues.

Trata-se de uma revisão especial para o ISA (setembro/1997) das informações que constam de seu livro Línguas brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas (São Paulo, Edições Loyola, 1986, 134 p.).



Você pode conhecer outras famílias acessando o endereço:

 Multilinguismo

Os povos indígenas sempre conviveram com situações de multilinguismo.

Isso quer dizer que o número de línguas usadas por um indivíduo pode ser bastante variado.

Há aqueles que falam e entendem mais de uma língua ou que entendem muitas línguas, mas só falam uma ou algumas delas.

Assim, não é raro encontrar sociedades ou indivíduos indígenas em situação de bilinguismo, trilinguismo ou mesmo multilinguismo.

Geralmente a diferença linguística não é impedimento para que os povos indígenas se relacionem e se casem entre si, troquem coisas, façam festas ou tenham aulas juntos.

Um bom exemplo disso se encontra entre os índios da família linguística Tukano, localizados em grande parte ao longo do rio Uaupés, um dos grandes formadores do rio Negro, numa extensão que vai da Colômbia ao Brasil.

Entre esses povos habitantes do rio Negro, os homens costumam falar de três a cinco línguas, ou mesmo mais, havendo poliglotas que dominam de oito a dez idiomas.

Além disso, as línguas representam, para eles, elementos para a constituição da identidade pessoal:

è Um homem, por exemplo, deve falar a mesma língua que seu pai, mas deve se casar com uma mulher que fale uma língua diferente, ou seja, que pertença a outro “grupo linguístico”.

Os povos Tukano são, assim, tipicamente multilíngues. Eles demonstram como o ser humano tem capacidade para aprender em diferentes idades e dominar com perfeição numerosas línguas, independente do grau de diferença entre elas, e mantê-las conscientemente bem distintas, apenas com uma boa motivação social para fazê-lo.

O multilingüismo dos índios do Uaupés não inclui somente línguas da família Tukano. Envolve também, em muitos casos, idiomas das famílias Aruak e Maku, assim como a Língua Geral Amazônica ou Nheengatu, o Português e o Espanhol.

Há casos em que o Português funciona como língua franca (quando uma língua torna-se o meio de comunicação mais usado).

Línguas gerais

Nos primeiros tempos da colonização portuguesa no Brasil, a língua dos índios Tupinambá (tronco Tupi) era falada em uma enorme extensão ao longo do litoral.

No século XVI, ela passou a ser aprendida pelos portugueses, que de início eram minoria diante da população indígena. Aos poucos, o uso dessa língua, chamada de Brasílica, aumentou e generalizou-se de tal forma que passou a ser falada por quase toda a população que integrava o sistema colonial brasileiro.

Grande parte dos colonos vinha da Europa sem mulheres. Eles acabavam tendo filhos com índias, e isso fazia com que a Língua Brasílica fosse a língua materna dos seus filhos.

Além disso, as missões jesuítas incorporaram essa língua como instrumento de catequização indígena. O padre José de Anchieta publicou uma gramática, em 1595, intitulada Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil. Em 1618, publicou-se o primeiro Catecismo na Língua Brasílica. Um manuscrito de 1621 contém o dicionário dos jesuítas, Vocabulário na Língua Brasílica.
  


























A partir da segunda metade do século XVII, essa língua, já bastante modificada pelo uso corrente de índios missionados e não índios e passou a ser conhecida pelo nome Língua Geral.

Mas é preciso distinguir duas Línguas Gerais no Brasil-Colônia: a paulista e a amazônica.

Foi a Língua Geral Paulista que deixou fortes marcas no vocabulário popular brasileiro ainda hoje usado (nomes de coisas, lugares, animais, alimentos etc.) e que leva muita gente a imaginar que "a língua dos índios é (apenas) o Tupi".

Língua Geral Paulista

A Língua Geral paulista teve sua origem na língua dos índios Tupi de São Vicente e do alto rio Tietê, e era um pouco da língua dos Tupinambá.
No século XVII, era falada pelos bandeirantes.
Por intermédio deles, a Língua Geral Paulista penetrou em áreas jamais alcançadas pelos índios tupi-guarani, influenciando a linguagem corriqueira de brasileiros.

Língua geral amazônica

Essa segunda Língua Geral desenvolveu-se inicialmente no Maranhão e no Pará, a partir do Tupinambá, nos séculos XVII e XVIII. Até o século XIX, ela foi usada na catequese e na ação social e política portuguesa e luso-brasileira.

Desde o final do século XIX, a Língua Geral amazônica passou a ser conhecida, também, pelo nome Nheengatu (ie’engatú = “língua boa”).

Apesar de suas muitas transformações, o Nheengatu continua sendo falado nos dias de hoje, especialmente na bacia do rio Negro (rios Uaupés e Içana).

Além de ser a língua materna da população cabocla, mantém o caráter de língua de comunicação entre índios e não índios, ou entre índios de diferentes línguas.

Nheengatu

Em 1734, o governo de Portugal proibiu o uso do nheengatu no Brasil sob pena de chibata e prisão.

Mas, o nheengatu não morreu: em 2001, o município de São Gabriel da Cachoeira (AM), reconheceu o nheengatu como uma das suas línguas oficiais.

Tupi antigo
Nheengatu
Português
xe, ixé
se, ixé
eu
ne/nde, endé
ne, indé
tu
a'e, i (singular)
aé, i
ele, ela
oré
ø
nós (exclusivo-exclui o ouvinte)
iandé
iandé
nós (inclusivo)
pe, pe'ẽ
pe, penhẽ
vós
a'e, i (plural)
aintá/tá
eles, elas

















 Sim, a língua também tem a sua LINHA DO TEMPO... 

 Século XVI

O tupi, principalmente o dialeto tupinambá, que ficou conhecido como tupi antigo, é falado da foz do Amazonas até Iguape, em São Paulo. De Cananéia à Lagoa dos Patos fala-se o guarani.

Séculos XVII/XVIII

O extermínio dos tupinambás, a partir de 1550, a imigração portuguesa maciça e a introdução de escravos africanos praticamente varre o tupi da costa entre Pernambuco e Rio de Janeiro.
Em São Paulo e no Pará, no entanto, ele permanece como língua geral e se espalha pelo interior, levado por bandeirantes e jesuítas.

Século XX

O português se consolida a partir da metade do século XVIII. O tupi antigo desaparece completamente, junto com outras línguas indígenas (das 340 faladas em 1500, sobrevivem, hoje, apenas 170). A língua geral da Amazônia, o nheengatu, continua sendo falada no alto Rio Negro e na Venezuela por cerca de 30 000 pessoas.

Curiosidades

Em tupi, todos os verbos no infinitivo são substantivos: nhe’enga é “a fala”, e não “falar”.

A realidade ajuda a criar conceitos abstratos: “Silêncio”, por exemplo, é kirir˜i, inspirado no cri-cri dos insetos na mata, à noite.

Elementos da natureza nunca são ligados à idéia de posse: você diz xe py (meu pé) ou xe u’uba (minha flecha), mas nunca faz o mesmo para elementos da natureza.

Em tupi, não se diz nde ybyrá (tua árvore), mas somente ybyrá (árvore).

Não existe tempo verbal, todos os verbos estão no passado: para dizer “eu saio” e “eu saí” a expressão é a mesma: a-sem.

O dia de hoje não é um período de tempo, mas um lugar iluminado pelo sol: para se falar hoje, diz-se Kó ‘ara pupé (dentro desta claridade).


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